Escrito por Peter Rodriguez


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  • O Livro da Natureza
    • A natureza como Palavra de Deus
    • Criatura e Criador
    • Lidando com as dúvidas
    • A misericórdia de Deus, o Criador
  • A Bíblia
    • As Escrituras como Palavra de Deus
    • Deus revelado pela Bíblia
    • Como a Bíblia foi escrita
  • Jesus Cristo
    • Deus em carne
    • Fontes históricas sobre Jesus
    • Jesus e as revelações anteriores

O Livro da Natureza

A natureza como Palavra de Deus

Em muitas partes da Bíblia, a natureza é vista como um livro sagrado — uma outra fonte de conhecimento sobre o Divino.

A Bíblia diz que os céus “estão inscrevendo a glória de Deus” e que “sua escrita se estende por toda a terra” (Salmos 19:1, 4).

Cada página do Livro da Natureza oferece uma rica fonte de conhecimento sobre Aquele que criou todas as coisas. Ele eleva nossos pensamentos a Ele e nos guia em direção à pureza, paz e santidade. Seus versos estão repletos de sabedoria divina, e faríamos bem em receber suas palavras com cuidado e reverente atenção, pois não é nada menos que a Palavra de Deus.

As obras de Deus contêm muitos ensinamentos para nós.

Como a Bíblia diz:

  • “Vá até a formiga, […] estude seu comportamento e seja sábio” (Provérbios 6:6)
  • “Pergunte aos animais, e eles o ensinarão” (Jó 12:7)
  • “Considerem os lírios” (Lucas 12:27)
  • “Observem as aves do céu” (Mateus 6:26)
  • “Considerem os corvos” (Lucas 12:24)
  • “olhem para os céus” (Isaías 40:26)

A Bíblia diz que dia após dia os céus “derramam discurso; noite após noite eles revelam conhecimento” (Salmos 19:2).

Através das coisas que Deus fez, “ele não se deixou sem testemunho” (Atos 14:17).

Assim como os santos profetas escreveram sobre Deus nas Escrituras, a natureza também fala dele. Ela nos fala sobre a existência de um Ser divino e que ele é grande em poder, pois o Criador de tais maravilhas deve sê-lo. Assim, aquilo que se pode conhecer do Criador, nosso Deus, é-nos manifestado pela natureza ao nosso redor, pelas coisas que ele fez. “Pois as coisas não vistas dele, tanto o poder eterno como a divindade dele, são claramente vistas desde a criação do mundo, sendo apreendidas com a mente através das coisas feitas;” (Romanos 1:20)

As coisas que encontramos na natureza são como as palavras de um livro.

Assim como ler as palavras de um livro nos permite, através de esforço mental, perceber as realidades invisíveis que elas transmitem, ler as palavras do Livro da Natureza também nos permite perceber as coisas não vistas de Deus.

As flores que pontilham os campos, a bela melodia que Deus ensinou aos pássaros, as cenas gloriosas pintadas na sempre cambiante tela celeste — todos são lembretes sagrados que elevam nossos pensamentos ao Criador.

O sábio não olha meramente para as letras do Livro da Natureza, nem se deleita apenas com a poesia de seus versos bem elaborados. Ele vê além das letras, compreendendo o significado das palavras que lê e apreendendo as verdades por elas transmitidas. Com reverência, ele medita sobre a voz da natureza, ouvindo suas palavras como a Palavra de Deus e fazendo perguntas que o conduzem à verdade.

O pupilo de Sêneca costumava questionar a prática de seu mestre de observar a natureza e meditar sobre sua origem e Criador.

O filósofo gentio Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) respondeu ao seu pupilo com estas palavras: “Você me proíbe de contemplar o universo? Você me obriga a me afastar do todo e me restringir a uma parte? Não posso perguntar quais são as origens de todas as coisas, quem moldou o universo, quem pegou a massa confusa e amalgamada de matéria inerte e a separou em suas partes? Não posso perguntar quem é o Grande Arquiteto deste universo, como a imensa massa foi trazida sob o controle da lei e da ordem, quem reuniu os átomos dispersos, quem separou os elementos desordenados e deu forma definida aos elementos que jaziam em uma vasta deformidade?” (Seneca: Ad Lucilium epistulae morales, with an English Translation by Richard M. Gummere)

É correto reservarmos tempo para refletir sobre a criação de Deus e sobre Aquele que fez todas as coisas, por meio da leitura do Livro da Natureza.

Como a Bíblia nos convida: “Levantai ao alto os vossos olhos e vede. Quem criou estas coisas?” (Isaías 40:26)

Como a Bíblia diz: “Pergunta, agora, aos animais, e eles te ensinarão; e às aves dos céus, e elas te farão saber. Ou fala com a terra, e ela te instruirá; e até os peixes do mar te contarão. Quem não sabe, entre todos estes, que a mão de Jeová fez isto?” (Jó 12:7-9) (Jeová, que significa “O Auto-Existente”, é a palavra que o povo hebreu usava em sua língua para se referir ao Criador, o Ser Auto-Existente, o Eterno.)

Lendo o Livro da Natureza, aquele mesmo filósofo gentio reconheceu: “Deus fez esta grande e tão bela criação.” (Seneca: Ad Lucilium epistulae morales, with an English Translation by Richard M. Gummere)

O mundo natural revela à nossa mente a grandeza do nosso Deus e torna manifestas as maravilhas da sua criatividade.

“Ó Senhor, que variedade de coisas fizeste! Com sabedoria as fizeste todas; a terra está cheia das tuas criaturas! Eis o mar, vasto e amplo, onde se movem seres incontáveis, seres pequenos e grandes. Por ele transitam os navios, e o leviatã que formaste para nele brincar. Todos esperam de ti que lhes dês o alimento a seu tempo. Se lhos dás, eles o recolhem; se abres a tua mão, saciam-se de bens.” (Salmo 104:24-28)

“Grandes são as obras de Jeová, estudadas por todos os que nelas se deleitam.” (Salmo 111:2)

Ao estudar o Livro da Natureza, muitos foram divinamente iluminados e chegaram à interpretação correta.

A literatura científica forma essencialmente uma coleção de comentários sobre esse livro sagrado. O matemático e físico Isaac Newton, comentando sobre o Livro da Natureza, escreveu na conclusão de sua Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica: “Este tão belo sistema do sol, planetas e cometas só poderia proceder do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso.” (Newton’s Principia: The Mathematical Principles of Natural Philosophy, by Sir Isaac Newton; translated into English by Andrew Motte)

O Livro da Natureza jaz aberto diante de toda a humanidade.

Através desse livro, todo indivíduo humano pode aprender sobre Deus — mesmo nos lugares mais remotos do globo.

Pois onde quer que haja uma criação de Deus, essa mesma criação testemunha silenciosa e continuamente sobre o seu Criador. Não importa onde estejam ou que língua falem, todos os habitantes da Terra ouviram falar de Deus, o Criador. Como a Bíblia diz: “Os céus estão inscrevendo a glória de Deus; os céus estão proclamando a obra de suas mãos. Dia após dia eles derramam discurso; noite após noite eles revelam conhecimento. Eles não têm fala, não usam palavras; nenhum som é ouvido deles. Contudo, sua escrita sai por toda a terra, suas palavras até os confins do mundo.” (Salmos 19:1-4)

Muitos povos e indivíduos ao redor do globo ouviram aquelas palavras silenciosas da Natureza e descobriram o Deus verdadeiro através delas.

Nascido nos primeiros anos da conquista espanhola, Inca Garcilaso de la Vega — filho de uma nobre inca e de um conquistador espanhol — escreveu extensivamente sobre a história, cultura e sociedade incas. Em seu livro Comentarios Reales de los Incas, ele relembra sua infância vivendo entre os incas e como um deles. Ele escreveu: “Eles tinham a Pachacámac [Deus, o Criador] em maior veneração interior do que o Sol, cujo nome, como disse, não ousavam tomar em sua boca, enquanto o nome do Sol diziam constantemente. Quando perguntados quem era Pachacámac, diziam que era aquele que deu vida ao universo e o sustentava, […]. Deve-se saber, como dissemos em outro lugar e diremos novamente, e como todos os historiadores escreveram, que os reis incas do Peru, através da luz natural que Deus lhes havia dado, vieram a entender que havia um Criador de todas as coisas, a quem chamavam de Pachacámac, que significa ‘o criador e sustentador do universo’. […] Os incas ficaram muito satisfeitos em saber que os yuncas [outro povo indígena] tinham Pachacámac [o Criador] em tão alta reverência e que interiormente o adoravam como o deus supremo.” (Comentarios Reales de los Incas, Inca Garcilaso de la Vega)

Ao ler o Livro da Natureza, o filósofo romano Sêneca reconheceu: “Deus fez esta grande e tão bela criação.” (Seneca: Ad Lucilium epistulae morales, with an English Translation by Richard M. Gummere)

Um poeta grego uma vez escreveu: “Ó mais glorioso dos Imortais, poderoso Deus, invocado por muitos nomes, ó Rei soberano da Natureza universal, pilotando este mundo em harmonia com a Lei — toda a honra! A Ti é justo que os mortais se dirijam, pois filhos Teus somos, […]” (The Hymn of Cleanthes: Greek Text Translated into English, with Brief Introduction and Notes, by E. H. Blakeney, M. A.)

Em seu livro O selvagem, o militar e etnólogo José Vieira Couto de Magalhães compartilha informações que coletou de frequentes interações com os nativos durante suas expedições pelo Brasil. Ele menciona: “As pessoas, que entre os americanos [ameríndios] do Brasil se occupam de coisas divinas, são chamadas Caraíba e Pagees, os quaes são os seus sacerdotes. Acima das coisas da terra existe um ente a quem chamam Monãn. ou Monhãn, que quer dizer Constructor, o Edificador, o Autor, ao qual attribuem as mesmas perfeições que nós attrihuimos a Deus.” (O selvagem, José Vieira Couto de Magalhães)

Como a Bíblia diz: “Os céus proclamam a sua retidão [de Deus], e todos os povos veem a sua glória.” (Salmos 97:6)

A glória de Deus é a sua bondade (Êxodo 33:18-19), a sua retidão. A sua grande misericórdia para conosco é a razão apontada pelo Salmista para que todos os povos do mundo louvem o Deus e Criador de toda a humanidade: “Louvai a Jeová, vós todas as nações, louvai-o, todos os povos. Porque grande é a sua misericórdia para conosco; e a verdade de Jeová permanece para sempre. Louvai a Jeová!” (Salmos 117:1-2) “Ele não deixou de dar testemunho de si mesmo: mostrou bondade, dando-vos chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-vos sustento com fartura e enchendo os vossos corações de alegria.” (Atos 14:17)

“Cantai ao Senhor em ação de graças; cantai louvores ao nosso Deus ao som da harpa! Ele cobre os céus de nuvens, fornece chuva para a terra e faz a grama crescer nas pastagens das montanhas. Ele dá alimento aos animais selvagens e alimenta os filhotes dos corvos quando gritam.” (Salmos 147:7-9)

Criatura e Criador

  1. Em uma galeria de arte, sabemos que as pinturas não são aquele que as pintou.
  2. Da mesma forma,as obras de arte que vemos na natureza não são Aquele que as fez.

A natureza não é Deus, nem possui ela qualquer poder exceto aquele que Deus lhe concede.

Apenas o Criador é — e pode ser — o Ser Autoexistente.

Todos os elementos do universo foram criados por ele, pertencem a ele e são mantidos no poder de suas mãos. “ele faz o seu sol nascer” (Mateus 5:45). “ele recolhe as gotas de água, que destilam em chuva do seu vapor, que os céus derramam e gotejam abundantemente sobre o homem.” (Jó 36:27-28) “ele faz crescer a erva para o gado, e a planta para o serviço do homem; para que ele faça sair da terra o alimento,” (Salmos 104:14)

A natureza não funciona por si mesma, mas depende completamente de Deus.

Todos nós dependemos do nosso Criador para a vida e cada respiro que damos.

Deus mesmo continuamente faz nossos corações baterem e diretamente guia os planetas em suas alegres órbitas ao redor do sol. Somente a Deus oramos pela chuva e damos graças pela colheita em sua estação. “Haverá entre as vaidades dos gentios algum que faça chover? ou podem os céus dar chuvas? não és tu somente, ó Jeová, nosso Deus? portanto, em ti esperaremos, pois tu fizeste todas estas coisas.” (Jeremias 14:22)

Através de nossos estudos científicos, podemos compreender algo da estrutura racional do mundo e explicar seus fenômenos naturais — e não poderia ser diferente, uma vez que o funcionamento do mundo foi, de fato, racionalmente estabelecido por uma razão divina.

Deus “estabeleceu as leis do céu e da terra” (Jeremias 33:25), e ele diretamente usa essas leis naturais para governar o funcionamento do mundo.

Cometemos um triste erro quando nos deleitamos com os presentes, mas nos esquecemos do Doador, e um grave erro quando confundimos a criação com o seu Criador.

O erro fundamental da idolatria persiste quando confundimos a criação com o seu Criador. Precisamos levar em conta a simples verdade de que uma obra de arte não é o artista. O universo fala de Deus, mas não é Deus. O universo apenas expõe o poder, a sabedoria e a criatividade do seu Criador (assim como uma obra de arte aponta para a habilidade e personalidade de seu autor).

Devemos adorar não a criação, mas o Criador — assim como a razão exige que honremos não a pintura, mas o pintor.

Os santos anjos honraram o divino Artista por sua obra, não a arte: “Quando as estrelas foram feitas”, Deus diz, “todos os meus anjos me louvaram em alta voz” (Jó 38:7 LXX). Eles louvaram a Deus, não as estrelas. Esta é a resposta natural e razoável quando consideramos a criação de Deus. Podemos certamente nos regozijar em sua criação, assim como Davi fez (Salmos 92:4), e deleitar-nos em suas obras, como o próprio Deus o faz (Provérbios 8:30-31). No entanto, a honra e os aplausos naturalmente pertence ao artista. Assim, ao Eterno, que é maior do que qualquer pedaço de pedra ou madeira, que sempre existiu e sempre existirá — o único e verdadeiro Deus — sejam a honra, os aplausos e a glória para todo o sempre.

Sim, “tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque tu criaste todas as coisas!” (Apocalipse 4:11).

Nós louvamos artistas humanos por suas obras, mas não é Deus muito mais digno de nosso louvor? Um pintor humano pinta com base no que já foi criado, copiando ou buscando inspiração no mundo ao seu redor. Mas Deus criou todas as coisas a partir de sua própria mente, quando absolutamente nada além dele mesmo existia. Sua criatividade não está limitada a conhecimentos prévios ou materiais existentes. Não é ele muito mais digno de louvor do que os artistas humanos? As formas graciosas e os matizes delicados das plantas e flores podem ser copiados pela habilidade humana; mas que toque pode impartir vida a mesmo uma única flor ou folha de grama? Não é o Autor da vida muito mais digno de nossa admiração do que os artistas humanos?

“Louvem o nome de Jeová, pois só o seu nome é exaltado; a sua glória está acima da terra e dos céus.” (Salmos 148:13)

O simples entendimento de que o Criador é maior do que as coisas criadas chegara aos pensamentos de Pachacuti Inca Yupanqui (reinado de 1438 – 1471), o fundador do Império Inca: “[…] e queixando-se a ele de que, sendo senhor universal e criador de todas as coisas, e tendo feito os céus e o sol e o mundo e a humanidade, e com tudo sob seu poder, eles não lhe davam [a Deus, o Criador] a obediência que ele merecia, mas sim prestavam igual veneração ao Sol e ao trovão e à terra e a outras coisas, que não tinham virtude alguma senão a que ele lhes havia dado; e que ele lhe deu a conhecer que no céu, onde ele estava, era chamado Viracocha Pachayacháchic, que significa criador universal, […].” (Comentarios Reales de los Incas, Inca Garcilaso de la Vega)

O filósofo gentio Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) teve o mesmo entendimento que o indígena peruano mencionado acima: “há uma grande diferença entre uma obra e a causa de uma obra. […] aquele que cria, em outras palavras, Deus, é mais poderoso e precioso do que a matéria, sobre a qual Deus age.” (Seneca: Ad Lucilium epistulae morales, with an English Translation by Richard M. Gummere)

Uma árvore recebe nutrição do solo de Deus, hidratação de Suas chuvas e energia de Seu sol. Remova o sol, ou a água, ou o solo, e a árvore eventualmente deixa de existir. Em contraste, o verdadeiro Deus não precisa de nada para existir, pois é aquele que existia quando nada além dele mesmo existia. Ele é a razão da existência de todas as coisas. Ele transcende a todas as coisas. Ele é o Ser Autoexistente.

O profeta Isaías representa Aquele que criou todas as coisas dizendo: “antes de mim nenhum deus se formou, nem depois de mim haverá algum. Eu, eu mesmo, sou Jeová;” (Isaías 43:10-11)

O Criador não é uma estátua, mas o Deus vivo e eterno — que pensa, ama e nos dá sustento e vida.

“Quando perguntados quem era Pachacámac, eles [os incas] disseram que era aquele que dava vida ao universo e o sustentava, mas que não o conheciam porque não o tinham visto, e que por essa razão não lhe construíam templos nem lhe ofereciam sacrifícios, mas que o adoravam em seus corações (isto é, mentalmente) e o temiam como o Deus desconhecido. […] Que os ídolos encontrados no templo de Pachacámac fossem expulsos, porque, sendo ele o criador e sustentador do universo, não era apropriado que ídolos de menor majestade permanecessem em seu templo e sobre seu altar, e que Pachacámac fosse adorado no coração e que nenhuma estátua fosse feita dele porque, não tendo se mostrado, eles não sabiam que forma ele tinha e, assim, não podiam retratá-lo, como faziam com o Sol.” (Comentarios Reales de los Incas, Inca Garcilaso de la Vega)

Como Moisés disse na Bíblia: “Guardai, pois, cuidadosamente as vossas almas, pois não vistes forma alguma no dia em que Jeová vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais, fazendo para vós uma imagem esculpida, na forma de qualquer figura, […].” (Deuteronômio 4:15-16)

É errado reduzir a grandeza de Deus a uma estátua ou direcionar nossas orações para uma coisa criada em vez do Criador. Tais ações distorcem nossa compreensão dele e diminuem a sua majestade em nossas mentes, reduzindo o Eterno a algo perecível — uma mera criatura. Em contraste, não há como haver erro quando os homens adoram Aquele que é o criador, e o fazem da maneira como o Inca descreveu: “em seus corações (isto é, mentalmente)”.

Não devemos reduzir o Criador a uma estátua.

Uma pedra ou um pedaço de madeira não pode ser um deus.

A Bíblia nos convida a raciocinarmos juntos, à reflexão, com esta passagem escrita pelo profeta Isaías: “O carpinteiro estica o cordel; traça o contorno com um lápis; trabalha-o com plainas e marca-o com o compasso, fazendo-o à semelhança de uma figura humana, como a beleza de um homem, para habitar em um templo. Ele corta para si cedros, toma um cipreste ou um carvalho, e escolhe para si entre as árvores da floresta; planta um pinheiro, e a chuva o faz crescer. Então isso serve ao homem para queimar; e ele toma uma parte para se aquecer; acende um fogo e coze o pão; mas também faz um deus e o adora; fabrica uma imagem esculpida e se prostra diante dela. Metade queima no fogo; sobre a metade ele assa carne, come a assadura e fica satisfeito; também se aquece e diz: Ah! Já me aquentei, vi o fogo. E do restante faz um deus, sua imagem esculpida; prostra-se diante dela e a adora, e ora a ela, dizendo: Salva-me, pois tu és o meu deus. Eles não sabem, nem entendem; porque seus olhos estão vendados, para que não vejam, e seus corações, para que não entendam. E nenhum deles reflete, e não há conhecimento nem entendimento para dizer: Metade queimei no fogo e assei pão sobre suas brasas; assei carne e a comi; e faria eu da sobra uma abominação? Prostrar-me-ia a um pedaço de árvore?” (Isaías 44:13-19)

Como a Bíblia diz: “Os céus anunciam a sua retidão [de Deus], e todos os povos veem a sua glória.” (Salmos 97:6)

Todos os habitantes da terra viram a glória de Deus, pois “o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.” (Romanos 1:19)

“Os tempos da ignorância, pois, Deus desconsiderou; mas agora ordena a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam;” (Atos 17:30)

Esta é a mensagem para nós, que vivemos nos últimos dias: “E vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo; e dizia com grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” (Apocalipse 14:6-7)

Assim, as obras que vemos na natureza não são Aquele que as fez, assim como as pinturas que vemos em uma galeria de arte não são aquele que as pintou.

O louvor e a adoração cabem exclusivamente ao Criador, não à criatura, assim como a razão nos leva a reconhecer o mérito, não na pintura, mas no pintor.

LIDANDO COM AS DÚVIDAS

Consideremos novamente a ilustração das pinturas em uma galeria de arte.

A probabilidade não deixa espaço no mundo real para acreditarmos que as pinturas foram formadas por acaso. Ninguém verdadeiramente acredita que elas foram formadas por acaso. Podemos tentar complicar o que é claro e obscurecer o que é óbvio com pensamentos que soam inteligentes — “obscurecendo o conselho com palavras sem conhecimento” (Jó 38:2) — mas no fundo, sabemos a simples verdade: alguém pintou aquelas pinturas.

“Se você equiparar a probabilidade do nascimento de uma célula bacteriana ao ajuntamento casual de seus átomos, a eternidade não será suficiente para produzir uma.” (Christian de Duve, citologista e bioquímico)

Certo cientista uma vez expressou uma linha de raciocínio sadia sobre este assunto: “Outra fonte de convicção na existência de Deus, conectada com a razão e não com os sentimentos, me impressiona como tendo muito mais peso. Isto segue da extrema dificuldade ou antes impossibilidade de conceber este imenso e maravilhoso universo, incluindo o homem com sua capacidade de olhar para trás e para o futuro, como resultado de um acaso ou necessidade. Ao refletir assim, sinto-me compelido a olhar para uma Primeira Causa tendo uma mente inteligente em algum grau análoga à do homem; e mereço ser chamado de Teísta.”

No entanto, é claro, se alguém desejar, pode sempre encontrar razões para não ter certeza do fato de que há um pintor por trás de uma pintura.

Alguém pode olhar para uma pintura e ainda tentar encontrar razões para acreditar que ela pintou a si mesma ou surgiu por acaso.

Aqueles que buscam razões para duvidar — não importa o assunto — sempre as encontrarão. Eles sempre conseguirão encontrar motivos para incerteza.

Podemos ficar incertos sobre absolutamente qualquer coisa, a ponto de até a própria realidade começar a parecer questionável e nossa própria existência parecer incerta.

A certeza, como um estado em que não resta razão alguma para duvidar, é impossível em qualquer questão.

A fidelidade de um parceiro romântico, nosso conhecimento de eventos históricos, o significado de um texto ou conversa — tudo isso pode se tornar duvidoso e incerto se começarmos a procurar razões para duvidar. E, no entanto, ainda acreditamos nessas coisas. Confiamos no peso das evidências para formar nosso senso de certeza e realizar as coisas importantes e práticas da vida. Aqueles que insistem que toda possível razão para dúvida deve desaparecer nunca serão capazes de confiar em seu parceiro, conhecer a história ou compreender o que seu chefe ou cliente quer deles. E, no entanto, na prática, nós de fato entendemos o que os outros querem dizer, nós sabemos sobre o Império Romano e nós nos casamos.

Deus proveu abundante evidência de si mesmo, mas aqueles que se recusam a crer até que cada objeção concebível seja respondida, não deixando nenhuma oportunidade para dúvida e ceticismo, jamais virão para a luz.

Não há necessidade disso.

Se os homens, sempre que confrontados com a dúvida, escolherem não se deter nas poucas coisas que não conseguem explicar, mas nas claras e amplas evidências que Deus forneceu para sustentar sua fé, eles virão para a luz. Precisamos decidir com base no peso das evidências. Deus deu ampla evidência para a fé, mas quem quer que escolha ignorar a evidência, ou permanecer em dúvida porque uma questão permanece sem solução, será inevitavelmente deixado na fria e desolada atmosfera da incredulidade e intermináveis dúvidas.

Podemos não ser capazes de percebê-lo diretamente através dos nossos sentidos, mas o nosso Criador também nos deu um cérebro — e ele quer que o usemos.

Precisamos pensar. Precisamos refletir sobre as evidências e as coisas que vemos. Nossas habilidades sensoriais não foram dadas apenas para experimentar a realidade, mas também para nos ajudar a compreendê-la e dar-lhe sentido. Através dos nossos sentidos, percebemos a realidade ao nosso redor; com as nossas mentes, pensamos e refletimos sobre o que percebemos.

Devemos fazer uso do dom da razão com o qual o nosso Criador nos dotou.

Muito, muito antes do primeiro homem ir para o espaço, o peso das evidências já havia mostrado que a Terra é redonda, e nós acreditamos nisso, apesar do que os nossos olhos possam sugerir daqui de baixo. Pois podemos ver a terra se estendendo plana diante de nossos olhos e apressadamente assumir que nosso planeta é plano com base em como ele aparece aos nossos olhos. Mas uma vez que o assunto é investigado e o peso das evidências é considerado, chegamos à verdade de que a Terra é, na verdade, redonda.

Apesar da nossa incapacidade de perceber Deus através dos nossos sentidos (que é a única razão para não acreditar), o peso das evidências aponta para a sua existência.

Há mais razões para crer do que para duvidar.

“Graças te dou, pois de modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;” (Salmos 139:14)

A criação nos leva a reconhecer que há um Criador por trás dela e a glorificá-lo por seu poder e sabedoria.

“Pois as coisas invisíveis dele, tanto o eterno poder como a divindade dele, são claramente vistas desde a criação do mundo, sendo compreendidas com a mente através das coisas criadas;” (Romanos 1:20) “Os céus estão inscrevendo a glória de Deus; os céus estão proclamando a obra de suas mãos. Dia após dia eles derramam discurso; noite após noite eles revelam conhecimento. Eles não têm fala, não usam palavras; nenhum som é ouvido deles. Contudo, sua escrita sai por toda a terra, suas palavras até os confins do mundo.” (Salmos 19:1-4)

“Quão grandes são as tuas obras, ó Jeová! Os teus pensamentos são muito profundos. O homem carnal não conhece, e o embrutecido não entende isto.” (Salmos 92:5-6)

Desde o despertar da nossa consciência na infância, temos aprendido e compreendido o significado das coisas que vemos. Deus nos deu um cérebro poderoso e nos dotou de razão, não apenas de sentidos. Não somos seres irracionais, vivendo apenas para comer e satisfazer apetites sensoriais, sendo governados pelos sentidos em vez da razão, cuidando apenas da terra e das coisas terrenas.

“Eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, e a minha razão voltou a mim, e bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre;” (Daniel 4:34)

Existe um Criador, e nenhuma quantidade de explicação pode convencer alguém da verdade dessa declaração, nem contar os porquês e os comos da criação do mundo. Essa declaração deve ser compreendida pela fé no grande poder criativo. “Pela fé entendemos que os mundos foram preparados pelo dizer de Deus, de modo que o que é visto não foi feito de coisas que aparecem.” (Hebreus 11:3)

Deus nunca nos pede para crer sem dar evidência suficiente sobre a qual basear nossa fé.

Sua existência é estabelecida por testemunho que apela à nossa razão; e este testemunho é abundante.

Mas Deus nunca removeu a possibilidade da dúvida:

  • Aqueles que desejam duvidar terão oportunidade.
  • Aqueles que verdadeiramente desejam conhecer a verdade encontrarão ampla evidência para fundamentar sua fé.

Através da evidência encontrada na Palavra de Deus (também anunciada pela natureza), podemos receber o dom divino da fé — pois “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da palavra de Deus” (Romanos 10:17). Através da fé podemos romper as negras nuvens da dúvida e da incredulidade, “como que vendo aquele que é invisível” (Hebreus 11:27). A fé não é um sentimento ou emoção, mas a “convicção de coisas que não se veem” (Hebreus 11:1). E esta convicção “vem pelo ouvir, e o ouvir da palavra de Deus” (Romanos 10:17).

A Misericórdia de Deus, o Criador

A Bíblia

As Escrituras como Palavra de Deus

Deus Revelado pela Bíblia

Como a Bíblia foi escrita

Jesus Cristo

Deus em carne

Fontes históricas sobre Jesus Cristo

Jesus e as revelações anteriores

Tudo o que Jesus ensinou, fez e acreditou estava plenamente alinhado com os ensinamentos anteriores da Palavra de Deus.

Considere seus ensinamentos e veja por si mesmo a importância que ele deu ao Livro da Natureza e como ele exaltou as Escrituras Sagradas. Tudo o que ele disse e fez estava em harmonia com os ensinamentos anteriores da Palavra de Deus. E não poderia ser diferente, pois ele era o próprio que inspirou os profetas e escreveu o Livro da Natureza: “o Espírito de Cristo, que estava neles [nos profetas antigos]”, (1 Pedro 1:11) e “por meio dele [de Jesus] todas as coisas foram criadas” (Colossenses 1:16).

Devemos considerar tanto a Natureza quanto o Antigo Testamento como a Palavra de Cristo — porque elas de fato o são (1 Pedro 1:11 e Colossenses 1:16).

Jesus constantemente direcionava nossa atenção para o Livro da Natureza e para as Escrituras:

  • “Olhai para as aves” (Mateus 6:26).
  • “Considerai os lírios” (Lucas 12:27).
  • “Observai os corvos” (Lucas 12:24).
  • “Examinais as Escrituras:” (João 5:39)
  • “Está escrito:” (Mateus 4:4)
  • “Também está escrito:” (Mateus 4:7)
  • “Está escrito:” (Mateus 4:10)
  • “[…],como está escrito, […]” (Marcos 7:6)
  • “[…],como a Escritura disse:” (João 7:38)
  • “Porque Moisés disse:” (Marcos 7:10)
  • “Não está escrito…?” (Marcos 11:17)
  • “Nunca lestes…?” (Mateus 21:16)
  • “porque está escrito:” (Mateus 26:31)
  • “Está escrito nos Profetas:” (João 6:45)
  • “Não tendes lido…?” (Mateus 12:3)
  • “Não tendes lido…?” (Mateus 19:4)
  • “Nunca lestes esta Escritura…?” (Marcos 12:10)

Jesus usou o Livro da Natureza para explicar a Bíblia, defendendo a cura no dia de descanso citando o cuidado contínuo de Deus por suas criaturas (mesmo no dia de descanso).

O texto diz: “E por esta causa [curar um homem no dia de sábado] os judeus perseguiram Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Mas Jesus lhes respondeu: O meu Pai pessoal trabalha até agora; eu igualmente estou trabalhando. Por essa causa, portanto, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente estava afrouxando o sábado [afrouxando-o das restrições que os homens ilegitimamente lhe haviam acrescentado], mas também chamando Deus de seu Pai pessoal, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:16-18)

Como vimos, a natureza não opera por si mesma, mas depende inteiramente de Deus.

O repouso de Deus no primeiro sábado do mundo não foi inatividade. Toda a criação depende da atividade de Deus a cada milésimo de segundo. O alvorecer de cada dia, o desabrochar das flores, o fluir dos rios, o sustento da vida vegetal, animal e humana revelam a cada momento a atividade constante de Deus. O sábado nunca foi destinado a ser um dia de ociosidade.

O trabalho de caridade dele não é como o trabalho comum, orientado para o lucro, que o quarto mandamento de Deus designou para os outros seis dias da semana.

Se Deus interrompesse suas operações no dia de repouso, o universo e tudo o que nele existe entrariam em colapso e desapareceriam naquele exato instante.

  • Durante a celebração do primeiro sábado, quando Deus repousou no sétimo dia de sua obra criativa, ele continuou Sua obra de caridade e amor.
  • Quando ele deu a Moisés os Dez Mandamentos em tábuas de pedra, incluindo o quarto mandamento ordenando que as pessoas repousassem no sétimo dia, Deus continuou sua obra de caridade no sábado seguinte.
  • Quando ele repreendeu seu povo por violar o quarto mandamento ao trabalhar em agricultura ou comércio naquele dia sagrado, ele continuou sua obra de amor por suas criaturas — que dependem dele a cada milésimo de segundo.

A proibição de ajudar alguém no dia de descanso era simplesmente mais uma das muitas indevidas restrições que os líderes religiosos do tempo de Jesus ilegitimamente acrescentaram ao quarto mandamento.

Como o texto disse, Jesus estava afrouxando, relaxando o sábado daquelas exigências adicionais ilegítimas que os homens impuseram a ele — tornando-o menos rigoroso, restaurando-o à forma original ensinada na Bíblia e observada pelos santos da antiguidade. Nunca foi proibido na Bíblia ajudar alguém no dia de repouso; ela simplesmente exige que se cesse o trabalho comum. Se os contemporâneos de Jesus não tivessem ido além do que a Bíblia ensina, e se tivessem considerado as lições do Livro da Natureza, não teriam condenado o inocente Jesus.

“O poder que saía para curar aquele sofredor era o mesmo poder que os sustentava em bem-estar.” (Ellicott’s Commentary for English Readers)

Se acidentalmente cortamos nosso dedo durante o dia de drscanso, nós vemos que Deus inicia o processo de cura em nosso corpo naquele mesmo dia. “O meu Pai pessoal trabalha até agora; eu igualmente estou trabalhando.” Ao condenarem o ato de Jesus de curar uma pessoa no dia de descanso, os líderes religiosos estavam, de fato, condenando a Deus e acusando-o de fazer algo errado. Eles também estavam condenando os santos anjos, que não cessam naquele dia o seu serviço abnegado em favor da humanidade.

Assim, ao citar a obra contínua de Deus no mundo, Jesus buscou ajudá-los a compreender as Escrituras através do Livro da Natureza.

Como o verdadeiro Messias, Jesus cumpriu a profecia: “Ele [o Messias] engrandecerá a lei e a fará gloriosa” (Isaías 42:21).

Em sua vida, vemos alguém que viveu estritamente todos os ensinamentos da Bíblia. Jesus declarou: “Não penseis que vim dissolver a Lei ou os Profetas [a Lei e os Profetas referem-se a toda a Bíblia escrita até então — o Antigo Testamento]: não vim para dissolver, mas para cumprir. […] Portanto, aquele que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens, será considerado menor no reino dos céus; mas aquele que os cumprir e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.” (Mateus 5:17,19)

Para Jesus, como podemos ver, não há ensino da Palavra de Deus tão pequeno que possamos negligenciar, desprezar ou desobedecer.

Foi o Espírito de Cristo que inspirou o Salmista a dizer: “Ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca.” (Salmos 119:4)

“Mas ai de vós, fariseus,” disse Jesus, “porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de toda a hortaliça, mas negligenciais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.” (Lucas 11:42). Jesus nomeia os produtos mais insignificantes da terra como exemplos daquilo de que exigiam meticulosamente o dízimo. “Estas coisas devíeis fazer”, afirma Jesus. De acordo com Jesus, eles estavam corretos na prática do dízimo, pois a Bíblia o ordena. No entanto, ele também insiste que não devem negligenciar as questões maiores da Bíblia: a justiça e o amor divino. Em suas palavras, “devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.”

A verdadeira obediência à Palavra de Deus exige mais do que uma ação externa; deve ser motivada pelo amor divino, o princípio central sobre o qual toda a Bíblia repousa.

“E os fariseus, quando ouviram que ele [Jesus] tinha feito calar os saduceus, reuniram-se. E um deles, intérprete da lei, perguntou-lhe, para o pôr à prova: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas [a Lei e os Profetas referem-se a toda a Bíblia escrita até então — o Antigo Testamento].” (Mateus 22:34-40)

De acordo com Jesus, tudo o que nos é ordenado na Bíblia depende dos princípios do amor supremo a Deus e do amor abnegado ao próximo.

A obediência aos ensinamentos da Bíblia é o resultado natural de um coração que verdadeiramente ama a Deus e verdadeiramente ama ao próximo.

“Nada há comandado em todo o Antigo Testamento que não possa ser reduzido a estes dois princípios. Este é todo o dever do homem ali ordenado. Todo o livro de Deus é nossa regra, e somos obrigados a cada preceito nele. Moisés resumiu tudo nos dez mandamentos, aos quais, devidamente interpretados, todos os preceitos das Escrituras são redutíveis. Cristo aqui reduz os dez a dois. O apóstolo reduz tudo a um, dizendo-nos que o amor é o cumprimento da lei. Nada há proibido nas Escrituras que não ofenda a lei real do amor, seja a Deus ou ao homem; nada há ordenado que não se enquadre nela.” (Matthew Poole’s Commentary)

Jesus guardou os mandamentos de Deus e ensinou outros a fazerem o mesmo:

  • “Tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.” (João 15:10)
  • “Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos [de Deus]”, disse Jesus, “para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas.” (Apocalipse 22:14)

Desde aquela cura realizada por Jesus no dia de sábado, os líderes religiosos tramavam a sua morte.

Mais uma vez, Jesus direcionou a atenção do povo para a Bíblia: “Não vos deu Moisés a Lei, e no entanto nenhum de vós cumpre a Lei? Por que procurais matar-me? […] Fiz uma obra, e todos vos admirais por isso. Moisés vos deu a circuncisão (não que seja de Moisés, mas dos pais); e no sábado circuncidais um homem. Se um homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, indignais-vos contra mim porque tornei um homem completamente são no sábado?” (João 7:19-23)

É fato que Jesus também protestou contra o apego a tradições e ideias humanas em detrimento do que a Bíblia ensina.

“E os fariseus e os escribas perguntaram-lhe [a Jesus]: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras? Ele, porém, lhes respondeu: Bem profetizou Isaías [um dos escritores bíblicos] a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, porém, me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Vós deixais o mandamento de Deus e guardais a tradição dos homens. E disse-lhes: Jeitosamente invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor; então não o deixais mais fazer coisa alguma por seu pai ou por sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes.” (Marcos 7:5-13)

Como podemos ver, Jesus, sem dúvida, dava grande importância às revelações anteriores da Palavra de Deus, e nós devemos fazer o mesmo.

  • “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, […].” (Mateus 22:29)
  • “Mas, se não credes nos seus escritos [de Moisés], como crereis nas minhas palavras?” (João 5:47)
  • “Nunca lestes nas Escrituras…?”(Mateus 21:42)
  • “Que está escrito na lei?” (Lucas 10:26)
  • “Que é, pois, isto que está escrito…?” (Lucas 20:17)
  • “Ora, na vossa Lei está escrito…” (João 8:17)
  • “Porventura,não está escrito na vossa Lei…?” (João 10:34)
  • “Assim está escrito…”(Lucas 24:46)

Jesus verdadeiramente era o Messias esperado: “Ele [o Messias] engrandecerá a lei e a fará gloriosa” (Isaías 42:21).

É importante verdadeiramente crer nesta palavra de Jesus: “Não penseis que vim dissolver a Lei ou os Profetas [a Bíblia escrita até então, o Antigo Testamento]” (Mateus 5:17)

“Que ninguém suponha que Cristo permite ao seu povo brincar com quaisquer mandamentos da santa lei de Deus. Nenhum pecador participa da justiça justificadora de Cristo até que se arrependa de suas más obras. A misericórdia revelada no evangelho leva o crente a um ainda mais profundo aborrecimento de si mesmo. A lei é a regra de dever do cristão, e ele se deleita nela. Se um homem, pretendendo ser discípulo de Cristo, se encoraja em qualquer desobediência à santa lei de Deus, ou ensina outros a fazer o mesmo, qualquer que seja sua posição ou reputação entre os homens, ele não pode ser um verdadeiro discípulo. A justiça de Cristo, imputada a nós somente pela fé, é necessária a todos que entram no reino da graça ou da glória; mas a nova criação do coração para a santidade produz uma mudança completa no temperamento e na conduta de um homem.”

Foi Cristo quem disse através do Salmista: “Rios de águas correm dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei.” (Salmos 119:136)

Quando Jesus entrou no templo, ele absorveu toda a cena. Viu o pátio exterior do sagrado templo de Deus profanado e transformado num barulhento mercado de gado. Viu comerciantes desonestos conduzindo transações injustas e vendendo animais a preços exorbitantes. Viu o desespero dos pobres e como a corrupção daquele lugar havia obscurecido seu propósito sagrado. “E, entrando no templo, começou a expulsar os que ali vendiam, dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós a tendes feito caverna de salteadores.” (Lucas 19:45-46)

Depois que Jesus limpou o templo e os comerciantes desonestos fugiram, finalmente surgiu uma cena digna do templo do Senhor: “E chegaram-se a ele no templo cegos e coxos, e ele os curou.” (Mateus 21:14)

“E ensinava cada dia no templo; mas os principais sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo procuravam matá-lo.” (Lucas 19:47)

“E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés na Lei nos ordena que as tais sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar.” (João 8:3-6a)

  1. De um lado, se Jesus tivesse dito para executar a mulher por seu crime, ele teria entrado em conflito com a lei romana, que reservava a pena de morte para si (João 19:12; João 19:15).
  2. Do outro lado, se ele tivesse dito para não executá-la, teria sido acusado de violar a lei civil de Moisés, que deveria ser aplicada sob um estado teocrático.

Em ambos os casos, a pergunta dos fariseus era uma armadilha, destinada a forçar Jesus a uma posição onde pudesse ser condenado.

“Além disso, pronunciar-se a favor da pena capital o teria colocado [a Jesus] em colisão com o governo romano, que reservava para si o poder sobre a vida e a morte. (Cfr. João 18:31; João 19:7.) Se ele tivesse proferido uma palavra em derrogação da majestade do império romano, a acusação de traição — caso em que ser acusado era praticamente ser condenado — teria sido imediatamente trazida contra Ele. (Cfr. Notas sobre João 19:12; João 19:15.) É claramente a visão mais severa que a forma da pergunta pretende obter. ‘Moisés disse, em palavras expressas: …; o que dizes Tu? Certamente não diferirás de Moisés?’ Mas se ele tivesse tomado a visão mais branda, então isso […] teria sido uma acusação de quebrar a Lei. Ele teria sido levado perante o Sinédrio como um falso Messias, pois o verdadeiro Messias estabeleceria a Lei.”

Havia muitos problemas com a maneira como eles lidaram com a situação — um deles sendo seu desrespeito pelas próprias disposições da Lei de Moisés:

  • Era dever do marido tomar medidas contra ela (Números 5:11-31)
  • As partes culpadas deveriam ser punidas igualmente, não apenas a mulher (Levítico 20:10)

A ação dos acusadores era totalmente ilegal.

“O próprio Sinédrio certamente não teria se condescendido nesta época a ter submetido qualquer questão de sua própria ação ao arbitramento de Jesus. … Considerando o longo desuso da Lei, e a impossibilidade de até mesmo o Sinédrio infligir legalmente a pena de apedrejamento, mesmo que assim o desejasse, toda a questão parece um plano sutil, mas mal considerado, para enredar o Senhor em seus julgamentos.”

Jesus poderia ter usado tudo isso contra eles, mas em vez disso escolheu ensinar-lhes uma certa lição.

“Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Quando, porém, persistiam em interrogá-lo, levantou-se e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Eles, porém, ao ouvirem isto, convencidos pela consciência, retiraram-se um após outro, começando pelos mais velhos até aos últimos; e Jesus ficou sozinho, e a mulher, onde estava, no meio.” (João 8:6b-9)

Os acusadores haviam sido derrotados.

Jesus não tinha revogado a lei dada por Moisés, nem infringido a autoridade de Roma.

Embora não minimize o pecado, nem diminua a sensação de culpa e crime, Jesus não procura condenar, mas resgatar. “Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então, lhe disse Jesus: Nem eu te condeno; vai e não peques mais.” (João 8:10-11)

Ele tomaria sobre si os pecados dela e suportaria a pena em seu lugar.

Não somente pelos pecados dela, mas também pelos pecados do mundo inteiro (1 João 2:2).